terça-feira, abril 07, 2009

Garota Desesperada

Querida Senhorita Lonelyhearts:
Tenho 16 anos e não sei como agir. Gostaria muito que a senhora me aconselhasse.
Quando eu era criança não era tão ruim porque cheguei a me acostumar com as
caçoadas que os meninos do meu quarteirão faziam de mim, mas agora eu gostaria
de ter namorados, como as outras meninas, e sair nas noites de sábado, mas nenhum
rapaz sairá, já que nasci sem nariz- embora eu dance bem, sou bem feita de corpo e
meu pai sempre me compre lindas roupas.
Passo o dia inteiro sentada, me olhando, chorando. Tenho uma grande cavidade no
meio do meu rosto que amedronta as pessoas , e a mim mesma, e não posso portanto
culpar os rapazes que não querem sair comigo. Minha mãe me ama muito, mas chora
quando olha para mim.
Que fiz eu para merecer um destino tão terrível?
Devo me suicidar?
Sinceramente
Desesperada

O texto acima foi extraído do livro Estigma: Notas sobre Manipulação da Identidade Deteriorada de Living Goffmann. O texto resume um pouco a dor da maioria da pessoas portadoras de uma estigma, ou seja, de uma marca que as desqualificam como pessoas em relação aos considerados "normais". Trata-se de um livro de fácil leitura , com riqueza de detalhes e experiências que favorecem um maior entendimento sobre a relação que se dá entre os ditos normais e os estigmatizados.
Neste sentido, ele faz um tratado sobre a manipulação da informação que se dá na relação de alteridade entre esses indivíduos. A questão do encobrimento de suas deficiências facilitará de alguma forma essa relação, pois não proporá ao indivíduo situações constrangedoras, levando-os , assim ao confinamento. No caso particular , a garota relata, aqui, seu desespero frente a visibilidade de seu problema. Diferentemente dos outros estigmatizados, é mais difícil de encobrí-lo e desta forma torna-se, na palavra de Goffman, uma pessoa desacreditável.
As marcas da sociedade ficam impressas nesses contados, onde o que está em jogo segundo o mesmo autor não é o controle da tensão que se dá em decorrência do encontro com o outro , mas a manipulação da informação sobre aquilo que o torna diferente. É o encobrimento de seu estigma. A discriminação e a exclusão social as impurram para um mundo onde Foucault classifica como mórbido, um mundo à parte ,construído em função de seu isolamento.
Assim, todos àqueles que possuem algum de tipo de desvio têm neste livro, à luz da antropologia social, uma abordagem não apenas acadêmica, mas humanizada e que ultrapassa o muro da indiferença .
Não terminei de ler, ainda, o livro, porém posso garantir que a leitura os ajudará na formação de uma nova forma de pensar, ou melhor, na compreensão de um mundo onde o diferente não seja penalizado por ser simplesmente diferente.
Boa leitura!

Um comentário:

Marcio disse...

Isso é fato !
E frente à competição exacerbada dos dias de hoje, o que difere pode ser usado como ponto fraco. É cruel, mas é assim que a banda toca, identifico ainda que grupos são formados para sobrevivência, luta por direitos e ataques aos oponentes.
Um beijo.
Márcio Feitosa.

Eu ajudo a mudar!

Uma música, um instante, um convite...

Trilha Sonora da Semana Led Zeppilin