quinta-feira, setembro 04, 2008

Um brinde às "sem vergonha" ( ou às mulheres que não têm medo de serem felizes)




Em relação à alguns comentários da postagem anterior " Sem medo de ser feliz!" não é difícil de entender por que o nu ainda provoca tanta polêmica no Brasil. Existe entre as pessoas ( não todas) um costume arraigado de ver a sexualidade como único atributo do corpo. É muito difícil para o brasileiro desvincular o corpo de sua função sexual.

Se hoje muitas mulheres vão à praia de biquíni sem causar transtornos, deve-se justamente à coragem das ditas "sem vergonha na cara" que não se intimidaram com as falsas moralidades impostas a todo custo e susto. Em épocas anteriores, o biquíni que hoje muitas mulheres usam sem o menor constrangimento era considerado imoral, indecente e "sem vergonha" a mulher que usasse o biquíni. Assim, também é considerada, hoje, "sem vergonha na cara" a mulher que decide em tirar apenas a parte superior do biquíni.Por que o homem pode e a mulher não? Será que ele também é um "sem vergonha", um pertubador dos bons costumes e da "ordem" pública?

Em 1874 a roupa de banho cobria a mulher da cabeça aos pés, o que na verdade a impossibilitava de nadar e obter um belo bronzeado. Já em 1920 as calças são trocadas por uma espécie de saia. É nessa década que as mulheres se libertam mais e Chanel "inventa" o bronzeado, o que antes era considerado um tributo de classes baixas. Nos anos de 1946o francês Louis Reard, que tomava conta do ateliê de sua mãe, escandaliza o mundo com duas peças mais ousadas, as quais ele batizou de biquíni e que hoje muitas mulheres usam da forma mais natural possível. Mas, na época, teve muita dificuldade para arranjar alguém que o vestisse, pois achavam que o modelo de duas peças não passava de “um ultraje!”, uma “afronta aos bons costumes!”.

Portanto, a mulher que se atrevesse a usar, há tempos atrás, o biquíni da forma que hoje, eu, você ou qualquer outra mulher usa era chamada de “ sem vergonha” pelos moralistas de plantão. Então,da mesma maneira não vejo como sem vergonha a mulher que, livre das amarras moralistas apregoadas por uma sociedade hipócrita, não se intimida em andar sem a parte superior do biquíni e muito menos se acomoda diante das incongruências dessa mesma sociedade.

O engraçado é que, as pessoas que criticam às ditas "sem vergonhas" são as mesmas pessoas que usam e abusam dos biquínis que essas mesmas "sem vergonhas" à custa de muita luta conseguiram conquistar. Portanto, seríamos consideradas sem vergonha para os padrôes da época apenas por vestirmos biquínis. Agora, pergunto: Você se considera sem vergonha por usar um biquíni? Há tempos atrás as mulheres que usassem os nossos biquínis que hoje vestimos, seriam as ditas "sem vergonhas" dos dias atuais. Hoje, graças a essas mulheres destemidas para muitos, mas " sem vergonhas" para alguns, podemos usufruir de um maior conforto durante os banhos de mar ou piscina e sem falar, é claro, de um belo bronzeado e com direito à sombra e água fresca.


Fotos: de cima para baixo

Foto 1: Mulheres de biquíni, ano 2008. Fonte: google
Foto 2: Traje de banho de mar, data 1938. Fonte: Sevcenko, 1998
Foto 3: Moças na praia, cerca de 1935. Fonte: Nosso século, 1985

10 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Marcenha

O seu post me fez lembrar um livro que li tempos atrás, onde falava sobre os costumes do iníco do século XX. O livro relata que as pessoas quando íam à praia era mais para fins terapêuticos não por puro lazer.O movimento era antes mesmo do amanhecer do dia, pois às sete horas, com o sol já alto, as pessoas de "respeito" não se atreviam a ficar expostas na areia.Depois de algum tempo as pessoas começaram já a freqüentar a praia como alternativa para o lazer. Assim, os homens podiam vestir-se com calções de casimira escura, até os pés, e camiseta. Para as senhoras o traje era uma bata de baeta com gola à marinheira e babados nas mangas acompanhada de calça comprida do mesmo tecido, também com babados na ponta. Tudo azul marinho debruado de cadarços brancos. As consideradas mais "escandalosas" usavam cadarços vermelhos nas roupas. Completando a indumentária, sapatos de lona e toucas franzidas ou chapelões de aba para esconder os cabelos molhados. Nossa,do que nos livramos, hem?
Com o advento do biquíni, escandalizaram-se os moralistas da época. E , assim, não é muito diferente hoje ,com o advento do topless, escandalizam-se os falsos moralistas de hoje, que vêem no nu apenas vulgaridade.

Não tenho blog, mas providenciarei logo um, adorei o seu. Você é de uma singularidade ímpar, diz o que tem para dizer com inteligência e acima de tudo com autenticidade. Parabéns e continue sempre ,assim, sem medo de ser feliz!

Anônimo disse...

Oi, não vou encher muito tua bola, ra mas um coisa é certa, vc se destaca das demais pessoas pela sua visão nada preconceituosa . Você me conquistou...

Anônimo disse...

Muito bom esse post....rs, o final, foi de invejar....kkkkkk, bom, concordo com os comentários acima, e como sempre 10 seus post!

Bom sem mais tempo para postar mas... vou ver se descolo um tempinho para ir a praia!!!! hehhee!!!

bjs, sucesso!

Anônimo disse...

Emancipar-se é equiparar-se ao homem em direitos jurídicos, políticos e econômicos. Corresponde à busca de igualdade, ter o mesmo direito de fazer suas escolhas, como a Marcênia falou em seu comentário do post anterior a estepost Libertar-se é querer ir mais adiante, marcar a diferença.

MARCENIA disse...

Referente à pergunta : " desde quando ver um homem sem camisa na rua é sinal de liberdade?" , eu respondo que a liberdade não se restringe apenas ao homem ficar sem camisa, vai além disto, trata-se portanto, da liberdade de escolha. Escolher ou não ficar sem camisa numa praia é um exemplo. E o homem exerce de total liberdade neste sentido. No caso, particular da mulher esse direito é violado, pois lhe é negado o direito de escolher de ficar ou não sem a parte superior do biquíni.
Compete ao Estado garantir os direitos humanos e as liberdades que eles protegem. Liberdades que são liberdades de escolha. Ser contra a liberdade de escolha, fincada nas responsabilidades individuias, é ser contra a dignidade humana, é ser contra a verdadeira democracia. Negar a capacidade de “escolha” às pessoas é sujeitá‑las à condição de servos de quem escolhe, quer seja a aristocracia (ou as suas metamorfoses mais modernas, a tecnocracia e "metade da população mais um"), quer seja um qualquer partido ou grupo vanguardista, considerando‑se iluminado para saber o que é melhor para cada pessoa e, portanto, para a sociedade.
Também, dizer que nu é nu, colocando tudo dentro de um único pacote é de uma total incoerência. Vejamos, por exemplo, você se considera vulgar por despir-se para alguém que gosta? Há nesta atitude vulgaridade? Portanto, há o nu vulgar e o nu que não tem nada a ver com vulgaridade. Então dizer que nu é nu , é um verdadeiro absurdo. O nu torna-se vulgar todas as vezes que estão intrínsecos nele ideologias estigmatizantes de perpetuação da idéia da mulher (ou do homem) como meros objetos sexuais, onde o foco é a prostituição , sejam através da televisão, das revistas direcionadas ao público masculino ou propagandas.
Disseram também: “ E pra isso foram feitas as praias naturalistas.”
Quanto a esta afirmação , eu diria que para uma sociedade hipócrita como a nossa é sempre mais fácil condenar ao isolamento ou separar em guetos os seus diferentes ou todos àqueles que diferem da forma de pensar de uma elite segregacionista. Assim, a segregação ou divisão social do espaço é uma maneira de manter situação sob “controle”, porém sintetiza com essa atitude preconceituosa o desrespeito pelas diferenças. Na época do “apertheid” (política segregacionista dos EUA) os negros só poderiam freqüentar determinado espaço da cidade, havia absurdos como banheiro para negros, escolas para negros, no mesmo transporte negros sentavam de um lado e branco do outro e etc. Agora, querem a divisão do espaço público para àquelas que desejam banhar no mar sem a parte superior do biquíni por considerarem imoral. Eu diria que imoral é atitude subversiva, preconceituosa e atrasada (de alguns) que reduzem às pessoas a seres insignificantes, apenas por serem diferentes ou pensarem diferente.

Obs. Este comentário refere-se à algumas afirmações ou perguntas feiitas na caixa de comentário do post anterior. Resolvi repetí-lo, aqui, para ajudar no esclarecimento das idéias apresentadas.

Anônimo disse...

Gata, para mim, é incontestável o papel civilizatório dos movimentos sociais. São eles que impelem, interpelam e provocam rupturas às estruturas conservadoras da sociedade.
Um beijo e contiunue escrevendo textos tão bacanas que nos ajudam a refletir nossa realidade.

Anônimo disse...

Nossa!!! Que viagem!!!
Quanto a mulher ficar sem a parte de cima ou não, é um absurdo. E não querendo ser moralista, não é isso, mas são esses homens que dizem que a mulher (dos outros) devem ficar nuas que são os que as tratam como objetos sexuais.

É melhor, de longe, ser tratada igualmente no mercado de trabalho do que igualar a uma decisão banal de ficar ou não sem biquini ou sutien.

Quer lutar, lute por um direitos iguais, onde homem e mulher exercem a mesma função, mas ele ganha 3x mais do que ela. Lute pela mulher que chega em casa, após 8 h de trabalho e ainda tem que dar um jeito na casa, nos filhos e no encostado do marido.

Quanto a comparar o nu, estamos falando em ficar assim em público, na praia, na rua... Nada tem a ver com ficar nu entre quatro paredes.

"Negar a capacidade de “escolha” às pessoas é sujeitá‑las à condição de servos de quem escolhe" parece piada! As leis existem por algum motivo. Já pensou se não existissem leis? E tem mais, a minha liberdade acaba quando começa a sua.

E sem comentários para o Apertheid. Viajou comparar uma luta política e civil com ficar nu. É diminuir demais uma causa onde homens morreram em prol de uma causa muito maior do que tirar a camisa na rua.

Agora, ninguém está negando-lhe o direito de tirar a roupa, quer fazer isso, faça em local apropriados, e não segregados.

Garanto que as mulheres dos cidadãos acima, não aceitariam que as mesmas tirassem suas roupas em público, a não ser entre quatro paredes e de preferência, pra eles mesmos. Isso sim é hipocrisia!

Quer fazer bonito e lutar por uma boa causa? Fale da educação que é o que falta nesse país, fale do crescimento desordenado, nesse país de analfabetos que elegem o cantores e apresentadores de TV por terem nomes conhecidos, lute pelos direitos da mulher a Não-Violência, à dignidade, mas falar que elas devem ficar nuas em público, é compará-las aos homens, acredito que é o que menos querem.

As mulheres nunca devem ser comparadas aos homens pois elas são muito superiores a nós. As mulheres devem ser femininas e não feministas.

MARCENIA disse...

Daqui do morro dá pra ver tão legal
O que acontece aí no seu litoral
Nós gostamos de tudo, nós queremos é mais

Do alto da cidade até a beira do cais

Mais do que um bom bronzeado

Nós queremos estar do seu lado

Nós 'tamo' entrando sem óleo nem creme

Precisando a gente se espreme
Trazendo a farofa e a galinha
Levando também a vitrolinha
Separa um lugar nessa areia
Nós vamos chacoalhar a sua aldeia

Mistura sua laia
Ou foge da raia
Sai da tocaia
Pula na baia
Agora nós vamos invadir sua praia

Agora se você vai se incomodar
Então é melhor se mudar
Não adianta nem nos desprezar
Se a gente acostumar a gente vai ficar
A gente tá querendo variar
E a sua praia vem bem a calhar

Não precisa ficar nervoso
Pode ser que você ache gostoso
Ficar em companhia tão saudável
Pode até lhe ser bastante recomendável
A gente pode te cutucar
Não tenha medo, não vai machucar"

Música : Nós vamos invadir sua praia.
Banda: Ultraje a Rigor



No APARTHEID , política de segregação dos EUA, era inaceitável a livre circulação dos negros nos espaços urbarnos. Era preciso uma espécie de passe para freqüentarem determinados lugares em seu próprio país. Até as praias eram divididas. Nas praias dos brancos, negros, latinos e indians people não entravam. Certamente, os brancos dos EUA tinham suas “razões” imbecis para separar os negros dos ambientes em que os brancos freqüentavam. Assim, o apatheid não é muito diferente de outros tipos de segregações. A segregação é o fato de separar as pessoas , de limitar o espaço ou o acesso a determinadas pessoas, em função de condições sociais, de gênero, cor, credo, nacionalidade e etc.
Esse tipo de segregação impede o direito de ir e vir das pessoas e segrega os cidadãos. São discriminações como essa, que negam o direito de escolha à mulher que, silenciosamente, justificam outros tipos de discriminações de gênero contra a mulher: tipo mulheres são o sexo frágil (e daí ganham salários menores para cargos iguais, levam mais tempo para serem contratadas e promovidas). Chega a dar nojo, tanto falso moralismo, tanto preconceito, talvez por se acharem superiores impõem a divisão do espaço urbano segregando seus diferentes. Há quem diga que a mulher é superior ao homem ou vice-versa, quando na verdade ninguém é superior à ninguém.
Por fim, por que não criar então, espaços exclusivos para negros, índios, menores carentes,ricos e pobres, terceira idade, pessoas com AIDS, filhos de pais separados ou mulheres divorciadas e o escambau? Certamente, todos os preconceituosos ou moralistas de plantão teriam algum motivo imbecil para dar vazão às suas atitudes separatistas ou de segregação em relação à essas pessoas. Portanto, segregar é separar, é condenar as pessoas ao isolamento, é negar o direito de ir e vir, é restringir o espaço urbano. Defendem assim, os moralistas e preconceituosos uma sociedade paralela ou do outro lado do muro talvez? Devemos, portanto, ousar, sair das grades e muros que aprisionam e entrincheiram as experiências e práticas sociais para estarmos assim abertos a experimentar e buscar nas vozes e nos olhares que estão para além dos muros, uma alternativa de um mundo mais justo e plural.

Anônimo disse...

aee eu apoio totalmente a ideia do "no sutiã!" nao vo sair da praiaa qd isso acontecer ahsauhsuahauhau ei depois a gente deve defender a ideia de "no calcinha"! aí fica perfeito! vai ser DEEEMAAAAAAIS! ja pensô? a praia cheia de gatinha??? apooooio totaaaaaaaaaalmeeeeenteeeee!!!!!!

SEM TRAJE DE BANHO PRAS MULHEREEES!!!!! ELAS TEM O DIREITO DE MOSTRAAR!! E EU O DE OLHAR "O.o

Anônimo disse...

João, acho que vc nao entendeu a interpretação direito do texto, acredito que resumido o que a marcenia quer dizer no exemplo do biquini, nao se trata de expor aqui se a mulher tem que tirar a camisa ou não, mais sim expor que ela não tem total liberdade tal como os homens tem!

Eu ajudo a mudar!

Uma música, um instante, um convite...

Trilha Sonora da Semana Led Zeppilin