quarta-feira, dezembro 13, 2006

ESTIGMA

O termo estigma tem sua origem na Grécia Antiga para se referir as marcas no corpo em que os grecos interpretavam como algo mal daquela pessoa. Desta forma sofriam publicamente humilhações e discrimações por serem diferentes.
Todos nós de certa forma já fomos( ou somos) estigmatizados ou rotulados se, assim, acharem melhor: somos estigmatizados como magrelos ou "baleias" , espanador de lua ou tronco de amarrar onça , branquelos , cabelo "escorrido", cabelo de "bom-bril", por ser filho de pais separados ou de mãe solteira, por ser nordestino, mulher , idoso , criança, por ser loura, por ser afro-brasileiro, estudar em universidade pública ou privada, por ser virgem ou não.... e assim vai... vou parar por aqui, pois a lista é imensa! !Temos, então, uma infinidade de possibilidades estigmatizantes .
As pessoas com deficiência são muitas das vezes discriminadas, taxadas de incapazes , aleijadas, loucas . Uma letra da música de Caetano Velozo diz que : "todo narciso acha feio aquilo que não é espelho ", ou seja , o diferente incomoda , assusta .Luiz Inácio da Silva Lula , ou simplesmente, Lula, foi discriminado por ser nordestino, não possuir um curso superior, ser operário etc e tal.. Hoje graças a sua perseverança ocupa um dos mais altos cargos do nosso país : o de presidência da República.Qualquer um que difere das normas sociais é exluído, marginalizado e estigmatizado.Os sinais de exclusão começam através do olhar, do distanciamento do corpo , da não aceitação Na minha experiência de aluna universitária existiam os "posers" , ou seja, aqueles frequentadores de shoppings e os " malucos" , na pedagogia, onde os piagetianos não se misturavam com os vigotskianos; nas ciências sociais a verve crítica tende a metralhar tudo, menos a si mesmo, ou seja, conforme o dizer de P. Demo, são "dialéticos para fora e funcionalistas para dentro" (Demo, P. Dialética da felicidade. V. 3. Petrópolis, Vozes, 2001, p. 59).
As representações construídas em torno da deficiência ao longo da história até os dias atuais, ajudam a determinar o imaginário social em torno da deficiência.
Na formação das sociedades, valores são construídos e perdurados ao longo do tempo com a finalidade de intensificar normas que ajudam a manter o status quo vigente. Esses valores refletem imediatamente no pensamento e conseqüentemente nas ações do indivíduo ou da coletividade. E com a deficiência não poderia ser diferente. O que foge a essa regra excludente é marginalizado. A deficiência por fugir aos padrões de “beleza” ou de “normalidade” entre outros é marcada pela segregação. O diferente assusta e incomoda.
As imagens da deficiência alimentada pela sociedade é fruto da sua organização.
Os autores anunciam situações onde os deficientes eram deixados à própria sorte, impedidos de conviver com os demais membros da comunidade e desta forma condenados a viver à margem da sociedade. Confinados muitas das vezes em sanatórios, lugares fétidos e empurrados à mendicância.
Michael Foucault p.78 (2000) relata que nos meados do século XVII o mundo da loucura vai tornar-se o mundo da segregação. Desta forma, criam-se em toda Europa estabelecimentos a receber loucos, inválidos pobres, mendigos, “inocentes” mal formados e disformes” velhos abandonados pela família, libertinos de toda espécie, eclesiásticos em infração, “pessoas ordinárias”, em resumo, diz Foucault: “Todos aqueles que, em relação à ordem da razão, da moral e da sociedade, dão mostras de alteração.”
Na obra clássica intitulada Quasímodo: O Corcunda de Notre Dame escrito por Victor Hugo (séc. XIX) nos mostra, com a perfeição que uma obra literária deste padrão possui, os encalços de um “disforme “ que se obriga a viver enclausurado em uma catedral, dado a sua condição física.
A sociedade rejeita aquilo que a incomoda, que foge a linha da normalidade. Identificar no outro, ou no diferente a sua condição humana, ou seja, “fraquezas” e limitações, é abrir espaços para concretização daquilo que cada um de nós não nos permitimos enxergarmos em nós mesmos.
Paul Vernant citado por Amaral(1995) , nos lembra através da narrativa de Heródoto sobre a oligarquia dos Baquíades, onde Labda é rejeitada por esposa pelos membros da sua própria linhagem por ser manca. Vernant diz então:

De qualquer modo, que ela não tenha podido se casar segundo as regras, porque manca, ou que a tenham denominado manca porque casado fora das regras, Labda é desqualificada para dar á luz um baquíade autêntico.”

Amaral cita Coulanges que nos remete novamente a esse universo greco- romano onde o Estado tinha o direito de não permitir o nascimento de crianças defeituosas, obrigando aos pais a matá-las. Amaral diz ainda que o autor identifica estes preceitos em antigos códigos de Esparta e de Roma (Cícero, Dionísio e Plutarco são historiadores/moralistas citados ).
Assim, basicamente nos Livros V e VII respectivamente da República (2004) de Platão (428-348 a.C) , referindo-se a um Estado e suas legislações “ideais” sustentado no conceito de “justiça” ele nos escreve :

É preciso, de acordo com que estabelecemos que homens superiores se encontrem com as mulheres superiores o maior número de vezes possível, e inversamente os inferiores com os inferiores, e que se criem a descendência daqueles, e a destes não, se queremos que o rebanho se elevem às alturas...” (Platão, p.154).Livro V

Percebe-se no texto citado acima, que Platão ao pensar uma sociedade “ideal “ justifica suas medidas como sendo necessárias para o fortalecimento do Estado . Para o filósofo, os melhores homens deveriam se unir às melhores mulheres e os defeituosos às defeituosas o mais raro possível.

Ora, somos nós que temos de tomar precauções em relação a todos esses casos. Se formos buscar homens de boa constituição física e intelectual ( grifo meu), para os educarmos nestes estudos e treinos, a própria justiça não terá nada a censurar-nos e salvaremos a cidade e a constituição. Mas, se trouxermos para esta cidade pessoa sem valor obteremos o efeito exatamente inverso...” ( Platão, p. 233).Livro VII

Novamente no texto acima citado demonstra a preocupação da construção de uma cidade que tenha em sua constituição “pessoas de valor”, usando assim, as palavra do autor, ou seja, uma cidade onde o disforme , o monstro, ou seja, a pessoa portadora de deficiência é condenada ao isolamento ou até mesmo à morte.
Através deste breve percurso histórico greco-romano, podemos perceber que as pessoas com deficiência eram marcadas, rotuladas, estigmatizadas por causa das suas diferenças físicas.



" Segui a paz com todos e santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor"
Hebreus 12 : 14

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